Em um piscar de olhos: a importância da comunicação visual


Em um piscar de olhos: a importância da comunicação visual


Por Fernanda de Araujo Nunes e Marina Silva Corrêa

Hoje em dia ficamos online quase 24 horas em nossos smartphones e computadores, trocando diversas mensagens, e-mails, acessando livros, sites, games, etc. Mas o que seria desses hábitos sem uma comunicação visual? Blocos de texto, em “times new roman” rolando pela tela do seu celular? O “Candy Crush” certamente seria muito mais atraente do que aquela infinidade de letras. 

Mas e se o seu conteúdo fosse informado a partir de infográficos, mapas, imagens dinâmicas e interativas? Parece mais interessante, certo? Por essa razão é que a comunicação visual ganhou força. Seu objetivo é transmitir informações de forma clara, assertiva e dinâmica, sem precisar estar sempre ligada a linguagem escrita ou oral. Como? As informações estão nas cores, imagens, ilustrações e na forma como eles são dispostas e hierarquizadas. 

Inclusive, na pré-história, o homem se comunicava exatamente dessa forma, a partir das chamadas artes rupestres. Utilizavam representações gráficas de animais, plantas, rituais e abstrações, etc. As pinturas e gravuras feitas nas paredes das cavernas eram a forma de representar informações do cotidiano do homem da época. Ou seja, desde a “idade da pedra”, o homem já se comunicava a partir de artes visuais, uma forma de comunicação efetiva para transmissão e recepção de informações, que compõe, hoje, o Patrimônio Histórico e Cultural. 

Voltando ao mundo moderno, vimos que essa forma de comunicação foi evoluindo com o passar dos anos e, principalmente, com os avanços da tecnologia. E em um contexto em que a humanidade possui hábitos da vida digital, é muito mais fácil, ágil e assertivo a informação diagramada e ilustrada, do que a partir de inúmeros parágrafos de texto. Isso porque a comunicação visual contribui para a velocidade da informação, transmitindo mensagens rapidamente. De acordo com os neurocientistas do MIT1, o cérebro humano pode processar imagens em apenas 13 milissegundos, muito mais rapidamente que um texto.  

Vários estudos também indicam que elementos visuais e cores contribuem para a melhor compreensão e memorização de conteúdo. Informações complexas, portanto, podem ser transmitidas de forma simples e direta com imagens. O importante é fornecer para o leitor, o que ele mais deseja encontrar naquele documento: a informação de forma objetiva e intuitiva.  Ou seja, o ditado “uma imagem vale mais do que mil palavras” é cada vez mais aplicável no mundo atual. 

E é nesse contexto que chamamos atenção para a importância da comunicação visual também no mundo jurídico. O famigerado “Visual Law” ou Legal Design, a técnica para uma comunicação mais persuasiva e intuitiva vem ganhando grande espaço nos escritórios de advocacia, empresas e Poder Judiciário. 

Historicamente, o Visual Law foi criado por Margaret Hagan, grande entusiasta da ferramenta e criadora do Legal Design Lab da Universidade de Stanford. O Legal Design Lab é composto por uma equipe multidisciplinar da Stanford Law School que desenvolve materiais jurídicos inovadores conjugando o design, a tecnologia e a lei. 

Conceitualmente, o Visual Law (Direito Visual) tem como objetivo a simplificação do jargão jurídico, facilitando a comunicação/interação entre advogado e cliente e, também, entre advogado e julgador2. Isso porque todos os operadores do Direito trabalham diariamente com páginas e mais páginas de textos. Desse modo, a tecnologia, design e o direito permitem uma interatividade digital. O “juridiquês”, com seus vários parágrafos complexos e termos em latim, é substituído por informações mais assertivas, imagens, cores, ícones e padrões que trazem maior efetividade à linguagem jurídica. Ou seja, é a transformação de textos rebuscados em algo que possa ser lido de forma clara e agradável.  

Por outro lado, inúmeros são os desafios enfrentados por nós, como operadores do Direito, para essa virada de chave. Além da necessidade de se ter uma visão completa e detalhada do caso (como regra básica), é preciso desenvolver técnicas para construção de um material coeso, didático eficiente e esteticamente agradável. O primeiro passo para colocar isso em prática é conhecer muito bem o destinatário do produto final e se colocar no lugar daquela pessoa – transformando em um material totalmente personalizado.  

Desse modo, a utilização de uma linguagem visual, elementos gráficos para facilitar a comunicação jurídica, técnicas de escrita que favoreçam a leitura, conjugados com uma diagramação desenvolvidas para enfatizar o que precisa, são habilidades muito bem-vindas para que o destinatário da mensagem compreenda as informações de maneira clara e linear. Certamente, essa ferramenta faz com que se alcance uma maior efetividade na transmissão da informação, principalmente para aqueles que não atuam na esfera legal, proporcionando uma experiência mais agradável de interação com documento. 

Essa é a importância da comunicação visual, especialmente, no mundo jurídico. Vivemos a era digital e da informação, com diversos conteúdos trocados e acessados constantemente, 24 horas por dia. A forma de leitura não é mais “passando uma página”, mas em scroll, rolando a tela dos celulares e computadores constantemente, de modo que ninguém quer ler 15 parágrafos monótonos, monocromáticos e com informações complexas. 

Inclusive, diversas empresas já aplicam o Visual Law em suas rotinas de trabalho, tais como a Samarco, iFood, Ambev, dentre outras. E nos parece, que essa tendência veio para ficar e melhorar a interação entre advogado e cliente, fazendo com que ele tenha uma verdadeira experiência ao receber o material, na velocidade de um clique e num piscar de olhos, seja no seu smartphone e/ou o juiz ao ler páginas de um processo.  

Referências:

1TRAFTON, Anne. MIT News. In the blink of an eye. Disponível em https://news.mit.edu/2014/in-the-blink-of-an-eye-0116.  

2 NUNES, Dierle; RODRIGUES, Larissa Holanda Andrade. O contraditório e sua implementação pelo design: design thinking, legal design e visual law como abordagens de implementação efetiva da influência. In. NUNES, Dierle; LUCON, Paulo Henrique dos Santos; WOLKART, Erik Navarro. Inteligência Artificial e Direito Processual: os impactos da virada tecnológica no direito processual. Salvador: Editora JusPodivm, 2020, p. 239.