Por Maria Clara Versiani de Castro e Yasmin Sevaybricker Vilanova Pereira
Inicialmente projetadas para auxiliar no desenvolvimento de softwares na área de tecnologia, as metodologias ágeis consistem em uma abordagem de gestão, adaptável à utilização pelas mais diversas áreas do trabalho técnico de conhecimento, como é o caso dos profissionais do mercado jurídico, que combina flexibilidade, eficiência e colaboração para uma entrega contínua de resultados de valor.
A principal característica dessas metodologias é a flexibilidade da gestão que, no lugar de seguir um modelo rígido tradicional, permite o fracionamento de projetos e trabalhos em tarefas menores, que são priorizadas por algum critério e executadas em ciclos de desenvolvimento pré-definidos, chamados de “sprints”. Isso promove interações curtas e frequentes entre os membros do time, incentivando a colaboração em um ambiente de melhoria contínua e intencional.
O objetivo da sua aplicação é promover uma gestão mais ágil e eficaz na condução de projetos e trabalhos, que permita a entrega de resultados em um menor espaço de tempo e com maior qualidade a partir da reflexão constante e melhoria contínua dos processos de desenvolvimento. Para tanto, é imprescindível que, ao final de cada ciclo, haja um momento de revisão e reflexão para que sejam identificados pontos de destaque e de melhoria, com a realização de ajustes nos processos para o futuro.
Não é novidade que o mercado jurídico é um ambiente competitivo, imprevisível e com muitos prazos a serem cumpridos, sendo um dos maiores desafios do operador do direito conseguir trabalhar de forma produtiva e ágil, sem sobrecarregar a equipe e comprometer a qualidade do trabalho.
Nesse cenário, as demandas e prioridades podem ser alteradas rapidamente e a utilização das metodologias ágeis permite uma adaptação mais fluída da equipe, diferentemente dos métodos tradicionais que são mais rígidos e podem dificultar as alterações das estratégias de forma célere e eficiente.
Além disso, as interações curtas e frequentes entre os membros do time promovem uma cultura de colaboração, motivação e comprometimento, tornando o ambiente de trabalho mais cooperativo, onde o conhecimento é compartilhado abertamente e as estratégias são alinhadas, evitando-se assim interrupções durante a execução do trabalho. Isso acontece, porque a comunicação entre os envolvidos se torna mais fluída, o que possibilita a troca de ideias e um alinhamento contínuo dos objetivos.
Ao dividir o trabalho em ciclos (os já mencionados “sprints”) mais curtos e focados, os membros da equipe podem concentrar seus esforços em tarefas específicas, melhorando a gestão do tempo e a produtividade, o que não impede que o progresso seja avaliado regularmente e sejam eventualmente ajustadas as estratégias, garantindo sempre a entrega de resultados de forma mais eficiente.
Contudo, a maior vantagem do uso das metodologias ágeis é sempre colocar o cliente no centro do processo de desenvolvimento. No contexto jurídico, isso significa uma maior ênfase em identificar, entender e eliminar as dores específicas de cada cliente, oferecendo soluções personalizadas e o mantendo sempre informado e envolvido ao longo de todo esse processo.
Ainda visando a maior segurança do cliente, a abordagem interativa e incremental das metodologias ágeis permite identificar e resolver problemas em estágios iniciais, reduzindo os riscos e a necessidade de realizar grandes ajustes nas fases finais de um projeto.
No ambiente jurídico, o uso das metodologias ágeis pode ser aproveitado não só na gestão de grandes projetos específicos que, pela complexidade envolvida são beneficiados pela divisão em pequenas etapas, mas também na gestão de prazos e tarefas da equipe no dia a dia.
A escolha dos métodos específicos a serem utilizados sempre partirá daquilo que fizer sentido para cada caso, mas no ambiente de times e projetos jurídicos, a utilização combinada dos métodos Kanban e Scrum poderá trazer inúmeros benefícios.
Em síntese, o método Kanban consiste em uma abordagem visual para gerenciamento do trabalho a ser desenvolvido, utilizando um quadro com colunas verticais que representam estágios do processo como, por exemplo: “a fazer”, “em andamento”, “em revisão” e “concluído”. Ele propicia o acompanhamento do progresso das várias etapas do trabalho, a partir da movimentação de cartões ou post-its, demonstrando a todos os envolvidos o fluxo de execução e o estágio mais atual do desenvolvimento.
O método Scrum, por sua vez, divide o trabalho em pequenos ciclos, geralmente de alguns dias ou poucas semanas, de forma que o time trabalhe de forma focada e com objetivos claros para aquele período de tempo, refletindo sobre os resultados ao final, antes de passar para uma próxima fase/etapa do desenvolvimento do projeto.
A associação entre os dois promove o planejamento e execução em ciclos de desenvolvimento (“sprints”) com visibilidade do controle de fluxo de trabalho em tempo real, permitindo uma adaptação mais fluída às mudanças eventualmente necessárias, o progresso e a colaboração do time na construção do resultado. No final, o que se percebe é um trabalho mais ágil e eficiente, com maior transparência e qualidade das conclusões alcançadas.
Em suma, portanto, as metodologias ágeis oferecem uma abordagem inovadora e eficaz para a gestão de times e projetos jurídicos, proporcionando flexibilidade, eficiência, colaboração e melhoria contínua dos processos, sempre buscando uma entrega de resultados de alto valor para o cliente e os stakeholders.