Agronegócio e práticas ESG: O que é importante saber?


Agronegócio e práticas ESG: O que é importante saber?


Assim como os demais setores da economia, o agronegócio está sendo fortemente impactado pelas discussões sobre as iniciativas ESG. E a pergunta que fica é: Será que esse setor está preparado para essa nova realidade? Como está o panorama atual? 

Antes de tudo, é sabida a representatividade que o setor do agronegócio exerce na economia brasileira. Segundo dados da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), o agro, em 2019, correspondeu a 21,4% do PIB do Brasil1. Nesse sentido, é extremamente importante a participação do setor nas discussões sobre as práticas ESG.

As pautas ambientais não são novas, principalmente no agronegócio, tendo em vista a regulação estatal já existente há algum tempo por meio de algumas leis esparsas. Todavia, com o crescimento da pauta ESG, os clientes, a sociedade e o mercado estão cada vez mais exigentes quanto ao consumo dos chamados “produtos verdes”, que são aqueles cujos produtores assumem o compromisso com o meio ambiente em toda a sua cadeia de produção. Para além desse eixo, as mudanças climáticas, as condições de trabalho e a escassez de recursos naturais também são pautas caras ao agronegócio, fazem parte da agenda ESG e, por isso, devem se prioridades para o setor.

No cenário de pandemia, o setor do agronegócio está alerta, uma vez que, em virtude da manipulação direta dos alimentos, volta-se à tona os debates sobre a contaminação, inspeção de qualidade na cadeia produtiva e a segurança dos alimentos2, o que está intrinsecamente relacionado às práticas ESG. Segundo o professor e gerente do Núcleo de Sustentabilidade da Fundação Dom Cabral, Heiko Spitzeck: “Os setores que mais exportam são a mineração e o agronegócio. São também os que mais impactam no meio ambiente e que dependem de investimentos estrangeiros. Todo mundo que está conectado com os mercados fora do Brasil será mais cobrado em relação às melhores práticas ambientais, sociais e de governança”3.

Assim, em virtude da alta cobrança no setor para o cumprimento dos parâmetros ESG, se torna cada vez mais urgente a adequação à elas. Sobre isso, o ex-ministro da Agricultura, Alysson Paolinelli4 afirma que: “A agricultura deixou de ser extrativa há muito tempo. Ainda tem muito produtor – do pequeno ao grande – usando nossos recursos de forma extrativa e não repõe, e isso tem que ser reduzido. É preciso um grande esforço de governo e de sociedade para aumentar a agricultura tecnificada, que repõem os recursos naturais que usa. Mais que isso, a atividade precisa gerar renda para quem trabalha nela”. Dessa forma, com um agronegócio tecnificado e baseado em inovações, a tendência é a melhoria nos problemas sociais, ambientais e econômicos.

Como tentativa de orientar e unificar os parâmetros ESG e criar uma métrica global, as quatro maiores empresas de auditoria do mundo (PwC, Delloite, E&Y e KPMG) lançaram, em setembro de 2020, um relatório (White Paper) internacional com os pilares que devem buscados pelo mercado, divididos em quatro princípios norteadores: Princípios de Governança, Planeta, Pessoas e Prosperidade5

No relatório, em conformidade com as particularidades do agronegócio, destacam-se algumas proposições importantes, notadamente na pauta de sustentabilidade ambiental: 

I) Quanto às mudanças climáticas, sugere-se notadamente, a (a.i) diminuição na emissão dos gases do efeito estufa e (a.ii) a implementação das recomendações da Task Force on Climate-related Financial Disclosures6

II) Quanto à degradação da natureza, sugere-se sensibilidade ecológica, reportando o número de terras e a área, em hectares, pertencentes, arrendados ou geridos em regiões próximas a áreas protegidas.

III) Quanto ao uso e disponibilidade de água potável, sugere-se reportar a quantidade de água retirada, consumida e a porcentagem que isso representa em regiões com alto ou altíssimo estresse hídrico de acordo com a ferramenta WRI Aqueduct Water Risk atlas7, além de informar todas essas informações para toda a cadeia de valor. 

Já em outro pilar importante para o agronegócio, de “Pessoas”, o relatório destaca a importância da diversidade, inclusão, igualdade salarial, de gênero, vedação ao trabalho infantil, forçado ou compulsório, a preservação da saúde e bem-estar e, por fim, desenvolvimento de habilidades para o futuro. Todos esses parâmetros devem ser levados em consideração em uma companhia pró-ESG que, por sua vez, não deve se limitar a eles, uma vez que a pauta é aberta e as questões sociais são inúmeras.  

Portanto, as práticas ESG, além de serem aplicáveis ao setor do agronegócio, já são cobradas em diversos níveis e, deixar de adotá-las poderá ser visto como um fator negativo diante do mercado, investidores e financiadores, clientes e fornecedores. 

Não há dúvidas de que o agronegócio, enquanto eixo produtivo essencial ao desenvolvimento humano, desempenhará valioso papel como um dos principais motores para a retomada do crescimento da economia, sobretudo no Brasil, país de grande tradição nesse segmento. 

É preciso, contudo, ampliar a visão e perceber que a essencialidade do setor deve ser igualmente transposta para a incorporação da agenda ESG em sua operação. E se pudermos definir objetivamente uma resposta à pergunta lançada no título deste artigo, a constatação é facilmente identificável: o impulso econômico a ser protagonizado pelo setor (ao lado também da mineração) propiciará benefícios ainda mais robustos e longevos se for pautado pela agenda ESG, que agregará incrementos e melhorias nas esferas ambiental, social e de governança das atividades conduzidas pelos players do setor. É importante saber! 

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*Colaboração do interno Vitor Emmanuel Viana Antunes Dantas. 

1 CNA BRASIL. Panorama do Agro. Disponível em: https://www.cnabrasil.org.br/cna/panorama-do-agro#:~:text=O%20agroneg%C3%B3cio%20tem%20sido%20reconhecido,do%20PIB%20brasileiro%5B1%5D. Acesso em: 21 out de 2020.

2 DINHEIRO RURAL. Como o ESG está impactando o agronegócio. Disponível em: https://www.dinheirorural.com.br/como-o-esg-esta-impactando-o-agronegocio/. Acesso em 22 out de 2020.

3 DIÁRIO DO COMÉRCIO. Práticas sustentáveis se tornam estratégicas para os negócios. Disponível em: https://diariodocomercio.com.br/economia/especial-praticas-sustentaveis-se-tornam-estrategicas-para-os-negocios/. Acesso em: 24 out de 2020.

4 DIÁRIO DO COMÉRCIO. Práticas sustentáveis se tornam estratégicas para os negócios. Disponível em: https://diariodocomercio.com.br/economia/especial-praticas-sustentaveis-se-tornam-estrategicas-para-os-negocios/. Acesso em: 24 out de 2020

5 WE FORUM. Measuring Stakeholder Capitalism Report 2020. Disponível em: http://www3.weforum.org/docs/WEF_IBC_Measuring_Stakeholder_Capitalism_Report_2020.pdf. Acesso em 30 out de 2020.

6 TCFD. Recommendations. Disponível em: https://www.fsb-tcfd.org/recommendations/. Acesso em 30 out de 2020.

7 WRI.  Aqueduct Water Risk Atlas. Disponível em: https://www.wri.org/resources/maps/aqueduct-water-risk-atlas. Acesso em 30 out de 2020.