Diversificação de matriz energética como garantia de suprimento da demanda no atual cenário de escassez hídrica


Diversificação de matriz energética como garantia de suprimento da demanda no atual cenário de escassez hídrica


Por Marina Silva Corrêa e Svetlana Miranda

Hoje, é inegável a importância da energia elétrica na vida das pessoas. A eletricidade é tão presente no nosso dia a dia que o impacto de sua insuficiência / ausência dificilmente pode ser imaginado, já que nosso cotidiano está totalmente atrelado ao uso de energia (internet, sistemas de segurança, condicionamento de alimentos, etc.).

Por sua importância e pelo constante crescimento da demanda, a energia elétrica é fator determinante no futuro da humanidade, ainda que tal afirmação possa soar alarmista e/ou exagerada.  

Por esse motivo, nos últimos anos muito se discutiu sobre a temível crise hídrica decorrente do regime irregular de chuvas e o período mais seco enfrentado no Brasil nas últimas décadas. Os estudos e levantamentos de dados por autoridades competentes previam que o país passaria por um cenário de escassez de chuvas, que impactaria i) nos baixos níveis dos reservatórios das usinas hidrelétricas, ii) na insuficiência do suprimento da demanda energética, iii) no aumento da conta de energia para a indústria e consumidores e, consequentemente, iv) no comprometimento na retomada da economia pós crise da COVID-19, com reflexos na inflação. 

O Sistema Nacional de Meteorologia emitiu, em maio de 2021, alerta de emergência hídrica para a região hidrográfica da Bacia do Paraná, que responde por mais de 50% da capacidade de armazenamento de água para geração hidrelétrica, abrangendo os Estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul e Paraná. 

A situação de crise hídrica foi, inclusive, reconhecida por meio da Medida Provisória nº 1.055, de 28 de junho de 20211, que instituiu um arcabouço legal para tomada de decisões governamentais objetivando uma harmonização entre interesses setoriais, locais e nacionais, por meio da atuação sinérgica de todos aqueles que podem colaborar para a implementação das possíveis alternativas/estratégias para enfrentamento da crise (órgãos, entidades e concessionários).

O gráfico abaixo reflete a matriz energética nacional. Em simples análise, percebe-se a dependência do país na energia gerada pelas usinas hidrelétricas e, por conseguinte, os impactos que a escassez hídrica gera na economia nacional: 



É irrefutável: se não há água suficiente para rodar as turbinas nas usinas hidrelétricas e gerar energia hábil ao abastecimento de toda a comunidade, vive-se um momento de crise energética no país. E, desse modo, justifica-se a relevante preocupação e mobilização de todo o setor para a diversificação da matriz nacional, a fim de garantir a continuidade e a segurança do suprimento eletroenergético.  

Esse receio é também sentido no contexto mundial. A preocupação com a geração de energia por fontes alternativas de baixo impacto ambiental impulsionou diversos países a investirem em pesquisas tecnológicas vinculadas à produção de energia através de recursos naturais  renováveis.  

E, nesse cenário, para que uma mudança de paradigmas ocorra, se faz necessário que o atual arranjo do setor elétrico mude e se diversifique. Para tanto, é imprescindível definir planos, compatibilizar as políticas vigentes (como de proteção aos recursos hídricos e ambiental), traçar metas de investimentos, além de avançar com as medidas já implementadas.  

Um efetivo planejamento energético é o “pontapé” inicial para a diversificação da matriz elétrica brasileira, a partir de investimentos em fontes alternativas de energia, como a energia eólica, biomassa ou solar (fontes inesgotáveis de energia), principalmente para garantir a distribuição de eletricidade nas regiões afetadas por estiagens. A diversificação da fonte energética possibilita a complementariedade no sistema de geração de energia. 

Essa “virada de chave” fez com que o setor privado, juntamente com os órgãos reguladores (Ex: Agência Nacional de Energia Elétrica – “ANEEL”), atuassem, direta e indiretamente, no fomento à utilização de fonte de energia “limpa” em prol do desenvolvimento sustentável e tecnológico.   

Sob todo prisma que se olha, vislumbra-se que o balanço entre as fontes de geração de energia, mesmo em situações de escassez hídrica, tende a equilibrar, sustentar e atender à demanda de todo o país.  

Além disso, na busca incessante pela necessária redução das emissões de gases de efeito estufa, as fontes alternativas de energia consideradas “limpas e renováveis” constituem-se num investimento até mesmo estratégico para o setor. 

Assim, uma coisa é certa: as novas tecnologias tendem a dominar o mercado de geração energética no Brasil e em todo o contexto mundial. Segundo dados divulgados pelo Ministério de Minas e Energia (“MME”), por meio do Departamento de Informações e Estudos Energéticos, quase a metade da energia energética produzida no Brasil vem de fontes renováveis.  

Portanto, a ideia de contrassazonalidade das fontes alternativas de energia, com as hidrelétricas em períodos de estiagem, torna-se essencial para trazer segurança e garantia no abastecimento de energia elétrica no país, com reflexos expressivos no cenário de geração de energia sustentável/renovável e na economia.  


 1-https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/medida-provisoria-n-1.055-de-28-de-junho-de-2021-328509026