A história do Antônio


A história do Antônio


Como a sua morte ou incapacidade podem gerar impactos na sua empresa? Se isso lhe preocupa esse texto vai te interessar.

Antônio, aos 34 anos de idade, fundou um pequeno empreendimento que se tornou uma das maiores fábricas de lubrificantes no interior de São Paulo, chamada Baboo Lubrificantes. Aos 37 anos de idade, Antônio casou-se com Marta, em comunhão de bens, com quem teve 2 filhos, a Helena e o Daniel.

A Baboo Lubrificantes, quando completou 30 anos de mercado foi listada entre as 10 maiores fábricas de lubrificantes no Brasil e, neste tempo de colheita, Antônio comprou vários imóveis para uso pessoal, lazer da família, e outros imóveis para alugar para terceiros.

Helena, a filha mais velha do casal, formou-se em medicina e casou-se com Paulo em comunhão parcial de bens. Fez pós-graduação na Alemanha e tornou-se muito bem-sucedida em sua profissão. Daniel, um pouco mais novo que Helena, morava com a namorada há 2 anos, estudava publicidade, trabalhava na fábrica do pai, sempre ocupando cargos de chefia.

Os parentes de Marta, que viviam no interior de São Paulo próximo a fábrica, eram bem humildes e muitas vezes pediam emprego na empresa. Antônio, com toda sua generosidade, solicitava ao RH da Fábrica para encaixar os sobrinhos, afilhados e irmãos em algumas vagas.

A crise mundial abalou a economia nacional e a Baboo Lubrificantes precisou buscar recursos de terceiros para compor seu capital de giro. Os juros bancários eram exorbitantes e os bancos apresentavam diversas condições e exigiam contrapartida, inviáveis para a Baboo Lubrificantes.

O novo sócio

Até que Antônio conheceu o José (60 anos), um empresário que acabava de receber o dinheiro de uma herança e pretendia investir em algum novo negócio para seu filho Marcos administrar. Antônio vendeu para José uma participação de 35% da sociedade.

Marcos, filho de José, passou a ocupar o cargo de gerente financeiro na fábrica. A afeição de José e Antônio como sócios e a expertise de gestão de Marcos, que já havia atuado como gerente financeiro por 10 anos na NetShell Lubrificantes, contribuíram fortemente para que a Baboo Lubrificantes conseguisse passar pela crise sem muitos percalços.

Antônio, já com quase 70 anos de idade e uma vida empresarial bem-sucedida, apesar de todas as dificuldades enfrentadas, passou a ter suas noites de sono perturbadas com algumas preocupações em relação ao seu negócio e em relação ao futuro de sua família.

As principais perguntas que não saíam de sua mente:

1. Na minha ausência ou incapacidade quem vai administrar a Fábrica? Os nossos principais parceiros (clientes e fornecedores) confiam e contratam diretamente comigo.

2. Devo transmitir minhas quotas da sociedade para meus filhos e já iniciar um processo de sucessão em vida, evitando que a empresa passe por todo um processo judicial? O meu sócio deverá fazer o mesmo? É como nossos filhos vão lidar com a posição de sócios? E se Helena se separar do marido? Ele terá direito de receber quotas da fábrica? E no caso do Daniel que mora com a namorada? Ela teria algum direito patrimonial? E, neste caso eventuais genros e noras, como sócios, minoritários poderiam causar entraves?

3. Se meu sócio falecer hoje não gostaria de ter sua esposa e filhos como sócios da Fábrica.

4. Preciso fazer um Testamento?

5. Se eu morrer a Fábrica terá que aguardar uma decisão judicial para nomear um administrador inventariante? Isso já não poderia ficar decidido e acordado evitando que os processos da empresa sejam paralisados neste período?

6. A Helena não demonstra qualquer afeição com os negócios da fábrica. É recomendado que ela seja sócia e corra os riscos inerentes ao negócio que ela não vai administrar? Como ela poderia participar da sucessão da fábrica, sem correr tantos riscos?

7. Meu filho Daniel sempre ocupou cargos de chefia com altos salários, mas, infelizmente não conhece a fundo todo o business que envolve a fábrica, o que vem gerando certo desconforto com o filho do meu sócio que possui mais tino para negócios e ocupa um cargo abaixo do Daniel.

8. Meu sócio está me questionando sobre funcionários com baixa produtividade e altos salários, incluindo os membros da família de minha esposa.

9. Caso a Fábrica entre em um processo de recuperação judicial ou falência, a dívida trabalhista poderá comprometer o meu patrimônio, constituído por toda uma vida?

10. A alteração do meu regime de casamento e transferência do patrimônio imobiliário para minha esposa seria uma alternativa para proteger os imóveis dos riscos do negócio?

Conclusão

Dilemas como os do Antônio são comuns quando não se tem de forma efetiva um processo de planejamento patrimonial, sucessório e de governança corporativa bem estruturados e sempre atualizados de acordo com as mudanças da empresa e da família.

A verdade é que ninguém gosta de pensar em morte ou incapacidade, e é difícil fazer escolhas entre os filhos ou abandonar uma posição de prestígio que pode representar o trabalho de uma vida inteira.

Os herdeiros, por sua vez, podem ter uma percepção equivocada de direitos durante a transição, por entenderem que a condição de sócios lhes garante uma posição no comando dos negócios. Na verdade, ela representa também mais uma chance de mostrar se estão preparados para assumir esse desafio, em um processo tecnicamente complexo e marcado por escolhas difíceis de caráter socioemocional.