Pós-Vacinação: Um novo olhar sobre o ambiente de trabalho


Pós-Vacinação: Um novo olhar sobre o ambiente de trabalho


Publicado pelo portal Mundo RH em 21 de julho de 2021

O avanço da vacinação no Brasil alimenta a expectativa de um novo momento de interações sociais e, principalmente, do aumento do número de pessoas no ambiente físico de trabalho. Preferimos tratar o pós-vacinação como um “novo momento” e não como um retorno ou “novo normal”, porque, certamente, a pandemia reforçou aquilo que já dizia Lulu Santos em uma de suas músicas: “nada do que foi será, de novo do jeito que já foi um dia.”

Os desafios postos pela pandemia e o futuro que se aproxima não podem ser tratados com soluções que obtemos olhando apenas pelo retrovisor. O momento atual é disruptivo e precisamos de novos paradigmas e soluções inovadoras.

Neste espírito, há muitos estudos e pesquisas sobre o futuro do ambiente de trabalho(físico e remoto)  pós-pandemia1 e o sinal aponta para uma maior flexibilidade de horário de trabalho, qualidade de vida, sustentabilidade, dedicação maior para entrega e resultados ao revés do controle exclusivo de horário e, sobretudo, do trabalho em regime híbrido (presencial/remoto).

Imbuídos desse prognóstico sobre o futuro do trabalho, ouso indicar cinco pontos que ao meu sentir devem ser considerados como essenciais no planejamento deste futuro que se aproxima:

Transformação digital

Sem dúvida a pandemia acelerou a transformação digital dentro das empresas. As relações de emprego e de trabalho, bem como o ambiente de trabalho, podem ganhar qualidade e eficiência com a transformação digital, sobretudo para simplificar e dar mais qualidade aos processos internos.

O modelo de transformação digital voltado para o negócio com foco em propiciar uma experiência aos consumidores/clientes tem sido aplicado para as relações com os empregados. Portanto, dispor da tecnologia para viabilizar soluções internas aos empregados, permitindo uma atuação mais próxima do empregado com o negócio e suportando as necessidades dos empregados, contribuem para senso de comunidade e de pertencimento dos empregados.

Do outro lado, tal movimentação revela um enorme processamento de dados e  informações, lançando para as empresas a necessidade urgente de revisitar suas práticas e políticas voltadas para proteção de dados e informação, bem como o treinamento de seus empregados sobre o tema.

Trabalho híbrido

Sem medo de errar, o trabalho híbrido foi uma das grandes consequências trazidas pela pandemia e, ao meu sentir, é um ponto positivo. Permitir o equilíbrio entre o trabalho presencial e o remoto de forma conciliar os interesses da empresa e empregados, propiciar maior produtividade, qualidade de entrega e qualidade de vida, além de contribuir para senso de comunidade e pertencimento,  é um enorme avanço para as relações de trabalho e emprego.

De toda forma, há muito o que se avançar no tema, sobretudo porque a jurisprudência e legislação ainda não dão conta de todos os desafios trazidos por este regime de trabalho, mas que não diminuem a sua importância.

Muitas empresas já fizeram a migração para o ambiente de trabalho remoto total ou parcial, mas acredito que o contexto pós-vacinação trará novos elementos e oportunidades do regime de trabalho híbrido, exigindo que políticas e contratos de trabalho sejam revisitados ou criados para adequar às novas necessidades.

Nova configuração do espaço de trabalho

Aposta-se, também, em um novo layout do local de trabalho, não apenas por conta da vivência que tivemos com a pandemia, como por exemplo, práticas voltadas para higienização e soluções tecnológicas em sistemas de ar condicionado e circulação de ar cruzada, mas, também, da própria organização das estações de trabalho, espaços de convívio e criativos, e outros de introspecção.

Em artigo publicado pela revista Forbes2 aponta-se as três tendências desses novos espaços de trabalho (i) possibilidade de personalização dos ambientes de acordo com as necessidade; (ii) conexão com elementos naturais – janelas voltadas para natureza/horizonte e (iii) diversidade de ambientes. Portanto,  os espaços de trabalho precisam ser revisitados a partir desse novo olhar integrativo.

Saúde Mental – Bem Estar Profissional

A pandemia reforçou a importância da saúde mental no ambiente de trabalho, fazendo com que muitas empresas reforçassem seu olhar para o tema e destinando setores voltados exclusivamente a questão da saúde mental e bem estar profissional. Tal movimento vai ao encontro do  Pacto Global da ONU3, o qual elencou a saúde e bem estar como um dos seus 17 objetivos.

De outro lado, a pandemia contribuiu para o aumento do número de ações trabalhistas com pedidos relacionados à síndrome burnout e outros transtornos mentais e de ansiedade. Assim, por quaisquer ângulos, é incontroversa a importância das empresas investirem em cuidados com a saúde mental de todos dentro da organização4.

Algumas medidas como, tais como,  canais de apoio para escuta ativa e com empatia para todos dentro das empresas, treinamento e capacitação de todos dentro da empresa são exemplos de medidas que contribuem para um ambiente em que as pessoas se sintam acolhidas nas suas necessidades e diferenças, portanto, para um ambiente de trabalho saudável e livre de qualquer forma de discriminação.

Diversidade e Inclusão

Por fim, mas não menos importante, a diversidade e inclusão é um propósito que deve nortear todas as ações internas das empresas. Todavia, a pandemia contribuiu para retrocessos, um estudo feito pela ONU dentro do programa do Pacto Global indica a perda de ganhos econômicos das mulheres e o aumento dos índices de violência contra as mulheres5 em razão da pandemia.

Este é apenas um dos exemplos que confirma como a pandemia contribuiu negativamente para diversidade e inclusão e, por isso, a importância das empresas retomarem/adotarem, de forma efetiva, medidas que contribuam para um um ambiente de trabalho socialmente responsável.

Não podemos deixar de ressaltar sobre as práticas de ESG (Environmental, Social and corporate Governance) que tem sido adotadas dentro das empresas e tem focado no tema de diversidade e inclusão,  deixando clara a sinergia de todos os temas acima.

Todos os cinco pontos acima se retroalimentam e é necessário um processo de reeducação para esse novo momento do ambiente de trabalho. As ações internas devem ser claras, objetivas e consistentes com a prática da empresa. Importante, ainda, que políticas sejam criadas e sirvam como guia, mas ao mesmo tempo sejam constantemente revisitadas a fim de adequar às necessidades da sociedade, dos empregados e da empresa.

Há um novo olhar para este ambiente de trabalho, que não é mais geograficamente limitado e nem restrito ao modelo de produção e entrega de bens ou serviços, mas, sim, socialmente responsável, diverso, inclusivo e sustentável.

[1] https://folhadirigida.com.br/mais/noticias/mercado/mundo-pos-pandemia-ambientes-home-office-futuro

https://www.mckinsey.com/featured-insights/future-of-work/the-future-of-work-after-covid-19

https://execed.economist.com/blog/industry-trends/what-does-future-work-look-after-covid-19

https://economia.estadao.com.br/noticias/sua-carreira,futuro-do-trabalho-requer-flexibilidade-saude-mental-e-estimulo-a-jovens,70003652704

[2] https://forbes.com.br/carreira/2019/12/3-tendencias-de-espaco-de-trabalho-que-os-lideres-devem-conhecer/#foto1

[3] https://www.pactoglobal.org.br/ods

[4] https://folhadirigida.com.br/mais/noticias/mercado/cresce-preocupacao-saude-mental-funcionarios

[5] https://www.revistahsm.com.br/post/diversidade-e-inclusao-em-pauta-na-pandemia