ESG: A nova tendência do mercado


ESG: A nova tendência do mercado


As práticas ESG já ocupam as principais manchetes ao redor do mundo e preocupam cada vez mais os empresários brasileiros que encontram um mercado cada vez mais exigente no que se refere à agenda de sustentabilidade.

Mas o que significa essa sigla? O que as práticas ESG representam? O termo ESG, apesar de novo no Brasil, surgiu da união entre três pautas debatidas há algum tempo e que são conexas às agendas de meio ambiente (“environmental”), responsabilidade e função social da empresa e de governança.

Aplicando essa sopa de letrinhas ao nosso momento atual, cabe-nos propor uma questão:  empresas que possuem pilares fortes de ESG apresentaram melhor desempenho durante a pandemia em comparação àquelas que não incorporam essa agenda? 

Se você respondeu “sim” a essa pergunta, sua percepção está correta! Ora, em tempos de COVID-19, a preocupação com a desigualdade social cresceu e reforçou a importância das práticas ESG, não só pela necessidade de se reconhecer o papel das empresas enquanto entes que impactam a sociedade, como também pela resiliência adquirida, uma vez que as práticas ESG fortalecem o desempenho das companhias no longo prazo1.

E se os números não mentem, é possível traduzir em percentuais os resultados positivos advindos da agenda ESG: empresas com ações listadas no Índice de Governança Corporativa (IGC) da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) que adotaram boas práticas de governança, riscos e conformidade2 valorizaram 122% a mais do que as demais empresas de capital aberto que não adotaram essas práticas, de acordo com levantamento feito pela empresa de consultoria Delloite entre janeiro de 2001 e abril de 2017.

A adesão a práticas ESG proporciona às empresas um melhor rating de crédito, maior retorno acionário, menor custo de financiamento e melhor performance financeira, segundo estudos divulgados no Report disponibilizado pela Anbima em 20193. Já de acordo com estudo promovido pelo JP Morgan4, ações relacionadas a investimentos sustentáveis tiveram melhor desempenho do que as tradicionais neste 2020 desafiador. 

As práticas ESG podem abarcar diversas pautas, como por exemplo a valorização dos colaboradores, comportamento ético nas organizações, redução da emissão de gases, gestão de resíduos, políticas de equidade de gênero e diversidade, igualdade salarial, dentre outras, a depender da companhia e do setor a qual ela está inserida. O retorno poderá vir com o valor agregado resultante dessas pautas, a exemplo de uma melhora da reputação da sua empresa frente ao mercado e, posteriormente, a médio/longo prazo, em resultados financeiros atrativos5.

Porém, nem tudo são flores no mundo ideal do ESG. Implementar as práticas alinhadas a essa agenda demanda mudanças comportamentais e culturais, além de muito relacionamento com pessoas e entidades. Isso custa tempo e dinheiro e extrapola as muitas obrigações e desafios aos quais os empreendedores já estão sujeitos em virtude da lei. Mas como foi com os temas correlatos a governança corporativa, compliance anticorrupção e LGPD, ESG já está na moda e quem estiver bem vestido passa na frente.

Para que os frutos sejam colhidos, as práticas ESG adotadas pelas empresas precisam ser efetivas, ou seja, devem ser aplicáveis e relevantes para a companhia e o setor a qual ela está inserida, pois é por meio da “materialidade” que tais práticas irão trazer os resultados almejados. Caso contrário, as empresas poderão incorrer no indesejável “Greenwashing”, denominação aplicada à adoção dissimulada de práticas ESG que não correspondem, em realidade, com as políticas e ações daquela empresa, caso em que o dano reputacional é maior do que não fazer nada.  

Como forma de tornar a aplicação dos critérios ESG mais mensurável, as quatro maiores empresas de auditoria do mundo (KPMG, E&Y, PwC e Delloite) criaram recentemente um relatório conjunto estabelecendo parâmetros objetivos para a aferição e medição das práticas ESG a nível mundial. A expectativa é de que esses parâmetros, que se fundamentam em 4 princípios gerais (Governança, Pessoas, Planeta e Prosperidade6), sejam norteadores para práticas ESG nas companhias a partir de agora. 

Nessa nova tendência de mercado, entregar apenas ganhos financeiros não basta. O sucesso deste novo tempo será protagonizado por empreendedores que traduzam suas ações em impacto social. Nas palavras de Larry Fink, CEO da BlackRock, a maior gestora de ativos do mundo: “para prosperar, cada companhia terá que entregar não apenas performance financeira, mas também mostrar como faz uma contribuição positiva para a sociedade7. E mesmo que a receita do sucesso não seja única, é certo que práticas de ESG podem ser grandes aliadas para o alcance dessa prosperidade. 

Mas como fazer para que essas medidas sejam implementadas? Acompanhe nossa série de artigos relacionados ao assunto.

LAVAL, Luísa. O que é ESG e por que esse conceito ganhou importância no mundo dos negócios. Disponível em: https://www.terra.com.br/economia/o-que-e-esg-e-por-que-esse-conceito-ganhou-importancia-no-mundo-dos-negocios,aec7e7122a79b7a8d87dbd8bdb535a99gyranlh2.html. Acesso em: 08 out de 2020.

2 EXAME. Os dados confirmam: boas práticas de governança valorizam ações. Disponível em: https://exame.com/negocios/os-dados-confirmam-boas-praticas-de-governanca-valorizam-acoes/. Acesso em: 08 out de 2020.

3 ANBIMA. Guia ASG: Incorporação dos aspectos ASG nas análises de investimento. Disponível em: https://www.anbima.com.br/data/files/1A/50/EE/31/BFDEF610CA9C4DF69B2BA2A8/ANBIMA-Guia-ASG-2019.pdf. Aceso em: 08 out de 2020.

4 JP MORGAN.  Investimentos Sustentáveis em Destaque. Disponível em: https://privatebank.jpmorgan.com/gl/pt/insights/investing/sustainable-investing-in-the-spotlight. Acesso em: 08 out de 2020.

5, 6 WORLD ECONOMIC FORUM. Measuring Stakeholder Capitalism Towards Common Metrics and Consistent Reporting of Sustainable Value Creation. Disponível em: http://www3.weforum.org/docs/WEF_IBC_Measuring_Stakeholder_Capitalism_Report_2020.pdf. Acesso em 08 out de 2020.

7 BRAZIL JOURNAL. ‘Mr. Friedman, we have a problem’: Vem aí o capitalismo 3.0. Disponível em: https://braziljournal.com/mr-friedman-we-have-a-problem-vem-ai-o-capitalismo-30. Acesso em: 08 out de 2020.

*Colaboração do estagiário Vitor Emmanuel Viana Antunes Dantas